segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Até (a)o lavar dos cestos(,) é vindima...


Ainda o mês é Setembro
A pender para o Outubro,
Ainda o tempo diz tudo
E decide o maturar
Das uvas que sempre lembro
Moerem-se para o lagar.

O relevo, ainda moço,
Curva o dorso derreado
Com as uvas que, por fado,
São sangue do nosso vinho,

Da nossa carne, pão nosso,
Que se reparte ao vizinho...

Ainda as cores são de sempre,
Extraídas a um Outono
A esvair-se em abono
No milagre já cumprido,
Ciclo que promete ao ventre
O repouso merecido.

'Inda tudo é tão igual,
E porém tão diferente,
Não é como antigamente
Quando em alegres fileiras
Se assobiava o sinal
De carregar as canseiras.

Às costas de homens nobres,
Fartos cestos escorriam
Mosto e suor que sabiam
O real valor do ouro:
Nunca a vida chamou pobres
Aos cultores do Alto Douro!