quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

"Um abracinho... num é pecado"


(intertextualidades cândidas)
"um abraço é pouco,
dois é conta certa,
dá-me cá mais outro,
ora aperta, aperta..."






dá-me cá mais dois,
que te quero a par,
um beijo despois,
que estou a gostar

ai um abracinho
quando é bem dado,
meu namoradinho,
ai, num é pecado

sempre que te beijo,
com os olhos meus
num sei que lampeijo
há nos olhos teus

se te fores imbora
pr'as franças distantes
leba-me senhora
ou atão amante

que te quero munto,
que te quero tanto,
contigo inté junto
trapinhos e canto:

dá-me um anelzinho,
de lata, que seija,
sem missa ou padrinho,
sem letria ó igreja...

só te quero assim,
junt'ó coração,
'braçadinho a mim,
não me deixes, não!


 
"Ai que linda troca d'olhos..."
 
 
 
Ai que linda troca d'olhos
fizeram agora ali
trocaram-se uns olhos pretos
por uns azuis, que'eu bem vi"
(cancioneiro popular)


Foi negócio a céu aberto,
lá na feira de Mesão,
o vendedor, bem decerto,
tem à freguesa afeição...

Pois não houve regateio,
foi um dá-cá e toma-lá,
e o troco, neste enleio,
só no coração se dá.

Que lindos, os olhos qu'ela
deu à troca, pelos dele,
eu sei qu'outra clientela
por eles dava um anel!

Negros, feitos do mistério
onde o amor s'aconchega,
de moçoila em porte sério,
mas qu'a folia num nega...

Que lindos, os olhos qu'ele,
lh'ofer'ceu apaixonado,
safiras para o anel
prometido pró noivado.

Azuis, onde guarda o mar
que trouxe um dia do Porto
pra um dia o poder dar
a quem lhe desse conforto.

Ai que linda troca d'olhos
fizeram agora ali,
só falta bordar os folhos
do vestido d'organdi!



sábado, 9 de fevereiro de 2013




(Serra do Marão - foto da autora)

no alto daquela serra




...não te sei dizer do friso frio das montanhas,
porque nunca conheci os contornos da areia quente

não te sei dizer da música musa do silêncio,
porque nunca ouvi o estridente grito das sirenes

e não te sei dizer dos risos dos rios nascentes,
porque nunca vi chorar uma criança triste...

só sei das comparações,
porque me disseste:


"-és tão pura como a brisa que nomeia as flores,
tão maternal e precisa
como a Natureza e os seus favores".