quarta-feira, 9 de junho de 2010


CANTAR-TE-EI, DOURO


Cantar-te-ei, Douro,
enquanto minha terra,
cantar-te-ei, rio,
enquanto Douro em fio
no colo da serra
que é meu nascedouro!

Cantar-te-ei sempre,
enquanto não me doa
o olhar de ver-te
e o ousar d'escrever-te
sentida e sã loa
de quem conhece o ventre
que o nascer lhe sente
e cresce no caminho
onde se entreteve,
em embriaguez breve
de sulcos de vinho,
cantar-te-ei sempre!

Cantar-te-ei, Douro,
enquanto te trouxer
a bater no peito,
e os olhos não deito,
náufragos e sem ver,
ao meu morredouro...

sexta-feira, 4 de junho de 2010

MENINA-DOS-OLHOS


Os meus olhos são de cor indefinida.
Um pouco de sol, com um pouco de sal,
Um toque de azul, em tinta dilúida,
Outro tanto em esperança, de verde noval.

Os meus olhos são os espelhos da terra,
Têm da cor, tudo o que o encanto alcança,
E o brilho todo que coroa a serra,
Quando o sol do dia, à tarde, já se cansa...

Os meus olhos são dois godés pequeninos
Onde misturo as tintas que se derramam
Nas paisagens onde se semeiam vinhos,
E no meu rio, onde terra e céu se amam.

Os meus olhos são de cor indefinida,
Fiel mescla de amenos semitons,
Paleta cromática, d' ouro tingida,
Onde rio e terra confundem os dons...
ARA-DOURO


Quem sabe a água que o meu rio-chora
Em vapores evolados e invisíveis?
Quem sabe quantas lágrimas tangíveis
Se libertam da terra amor-talhada
E condensam nos rostos que a laboram?...

Sei lá se o meu olhar inda erra-belo,
Sei lá se neste porto o ouro ancora,
Só sei que amor assim é sempre e agora,
Qu'esta terra já de si deu a mó-nada,
O grão, o sustento, e da pele, o velo...

Quem sabe até quando me é abriga-douro
O berço que me ornaram de veludo,
Onde cresço, sem espada e sem escudo,
Onde morro, a cada nova enxada-da
Escrita que lavro como tesouro...

E enterro, na eterna fé do D'ouro....