sexta-feira, 21 de maio de 2010

NOIVADO E CONSUMAÇÃO


Lá para fins de Agosto, ela estava pronta.

Linda, perfumada de fruta fresca, dourada de aromas quentes, seios de uva grada, dava-se aos olhos em promessas de vindima e gula...

Ele, perdido de amores por ela, de sempre devotado a ela, enlevava-se com a beleza da sua maturidade plena. Vira-a crescer, despontar os primeiros risos tenros, ousar os primeiro vestidos de moçoila, que ele ajudara, quase paternalmente, a ajeitar com laços e carícias, para permitir que o sol de verão lhe moldasse a doçura e a corasse de vida...

Havia-a cuidado, velado, protegido de males e perigos, com amor e dedicação, porque a sabia dele, para ele. Agora ela estava pronta... Virgem madura que se descobre desejada e se enfeita a primor para o seu homem...

...

Naquele dia, ela amanheceu húmida, tocada de uma frescura nova, a anunciar adeuses de Verão: era o Momento...

Já neblinas lhe rondavam os desejos de dar-se, como véus de noiva pronta. Desceu ao rio, mirou-se nas águas mansas que lhe murmuraram olhares cúmplices, penteou as tranças alinhadas, enfeitou-se dos melhores ouros, perfumou-se de mosto e deitou-se na colina, à sua espera...

Ele veio certo, com um assobio alegre entre os beijos prometidos, de mansinho, gozando em deleite os últimos olhares de sedução e os primeiro toques de posse...

Tomou-lhe com requintes a farta colheita, em luxúria de suores, vinho, sol e risos cantados...

Só o rio e o céu foram testemunhas desse acto de entrega e paixão. O sol, seduzido por uma jovem nuvem a prometer as primeiras chuvas, retirou-se, em rituais de namorico... e a própria brisa correu a esconder-se, mais por respeito que por pudor...

...Em metáfora de sementes, restaram, sobre a terra revolta, esparsos bagos de mel...

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